Para os que não conseguem treinar sem música, para os que treinam em total silêncio e para os utilizadores deste recurso apenas em determinados contextos (para correr, alongar, treinar força etc)
A música está presente na cultura e evolução do ser humano, estando associada a inúmeras atividades sendo que em algumas pode ser considerada como um aspeto integral como por exemplo em cerimónias. Intuitivamente, muitas pessoas acreditam que a música promove benefícios no domínio do exercício físico reportando sensação de bem-estar, motivação, mais energia, entre outros.
Sendo a música uma variável tão presente no dia a dia, é expectável que esta também possa ter uma influência significativa na nossa atividade física e/ou exercício físico. Podemos recorrer à música como algo estimulante ou relaxante em função da atividade a desempenhar. As características da própria música ditam, à partida, os efeitos que esta terá no exercício (antes, durante ou após). Estas características são agrupadas em:
  1. Resposta Rítmica – Resposta natural a um ritmo musical (cadência)
  2. Musicalidade – Referente a elementos relacionados tanto com o tom como a harmonia (combinação entre notas) e a melodia (tonalidade).
  3. Impacto Cultural
  4. Associação – Associações externas à música, provocada pela mesma, como por exemplo a composição da música.
A resposta rítmica e a musicalidade estão relacionadas com as propriedades auditivas do estímulo enquanto que o fator cultural e a associação constituem fatores externos.
Os hipotéticos benefícios associados podem ser separados em 4 categorias diferentes:
  1. Psicológicas
  2. PsicoFísicas
  3. Fisiológicas
  4. Performance
Havendo a possibilidade de que os efeitos da música possam ser mais do que placebo é importante entender que mecanismos estão subjacentes aos efeitos da música.

Emoções e Afeto

O termo afeto refere o estado neurofisiológico que é conscientemente acessível como um sentimento primitivo não reflexo. A emoção pode ser entendida como sentimentos que são tipicamente, breves, intensos e associados a uma causa percetível. Existe um quadro teórico que sugere 8 mecanismos psicológicos através dos quais a música influencia respostas emocionais e afetivas. Evitando ser muito exaustivo, pode ser referenciado um mecanismo:

Brain Stem Reflex – Processo através do qual as propriedades fundamentais da acústica da música, estimulam respostas dos sinalizando um evento potencialmente importante ou urgente. Por exemplo, as músicas rápidas e altas (som elevado) estimulam a ativação do sistema nervoso central independentemente se o praticante está ou não a apreciar a música. Esta estimulação resulta num aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e tensão muscular.

Para atividades de alta-intensidade, são necessários elevados níveis de excitação psicomotora e por isso o potencial efeito do estímulo musical pode ter alguma importância. A taxa de movimento e pulsos corporais como a frequência cardíaca e respiratória podem ser “puxadas” a jogar com as qualidades rítmicas de uma música. Este processo pode ser entendido como rythmic entrainment. Assim, algumas pessoas expressam uma preferência por determinadas cadências musicais em função da intensidade do exercício.

E as músicas que fazem relembrar certos momentos? A música pode ter um impacto servindo como gatilho para associações emocionais, processo este que pode estar associado a mecanismos subcorticais. Uma determinada música ou parte dela, através da repetição pode criar uma ligação com uma experiência de atividade física, ou seja, um estímulo (música) que previamente era neutro, ganha a capacidade para evocar a mesma resposta emocional que um estímulo positivo não condicionado (por exemplo uma experiência relacionada com uma atividade física).

Perceção de Esforço

O sistema nervoso aferente (que recebe e transporta informação, “que transmite a sensação”) tem uma canal limitado de capacidade. Consequentemente, o estímulo sensorial que chega ao cérebro, como a música, pode inibir os sinais de feedback fisiológico associados ao esforço físico. Por outras palavras, a sensação da música diminui a sensação do esforço. Esta interação pode ser medida (embora subjetivamente) pela perceção de esforço que é reportada pelas pessoas quando ouvem música enquanto treinam, sendo que é possível que estas sintam que o exercício “custa menos” quando estão a ouvir música.

 

Deves treinar com música?

Tal como grande parte dos temas associados ao exercício, depende. Um aspeto tão simples como gostar ou não gostar de ouvir música será suficiente para ter uma resposta.

Para todos os efeitos, a investigação sobre os efeitos da música no treino ainda não são suficientemente detalhados e conclusivos para estabelecer recomendações gerais. No entanto, é expectável que, para quem gosta de música, possa ter efeitos positivos no rendimento do treino sabendo que essa melhoria pode advir de fatores psicológicos, fisiológicos e/ou outros.

Terry, P. C., Karageorghis, C. I., Curran, M. L., Martin, O. V., & Parsons-Smith, R. L. (2020). Effects of music in exercise and sport: A meta-analytic review. Psychological Bulletin, 146(2), 91.

Sobre o autor: HammerBox PT

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